Hoje fui almoçar no shopping, pois estava de plantão. Nos finais de semana o shopping é delas. Só delas. Elas estão por toda a parte: nos carrinhos, correndo, pedindo coisas, chorando, fazendo birra. Próximo ao MC Donalds, então, há uma infinidade delas. Das mais crescidinhas um pouco. Beirando seus nove ou dez anos.
Cheguei à praça de alimentação, equilibrando a bandeja em punhos firmes, no caso de ser atropelada por uma delas, e depois de alguns minutos sobrevoando a área com os olhos encontrei um lugar pra me sentar. Me organizei e comecei a saborear a comida japonesa que tinha me servido momentos antes.
O casal da mesa ao lado - bem ao lado mesmo, porque em shopping é tudo pertinho - se levantou. Eis que veio a tropa! Chegou uma moça empurrando um carrinho com um menino de uns três aninhos. Se acomodou deixando o tal do carrinho no meio do corredor de passagem. Depois chegou outra moça com outro carrinho e um bebê de colo nele, era uma menininha. Posicionou aquele trambolho no único espaço que ainda sobrava ao redor e pegou a criança em seus braços.
Percebi que as duas moças eram irmãs e que a primeira era tia do casal de pequenos. Chegou o pai logo na sequência, o avô, a avó... A algazarra estava feita. O pai disse que ia se servir logo para fazerem um "rodízio" com as crianças. A mãe, que já tinha esparramado aquelas bolsas de bebê sobre a mesa - e eram duas - pegou uma mamadeira e começou a servir o leitinho para a menina. A tia pegou uma cadeira daquelas altas para botar o menino, e congestionou ainda mais o lugar.
Depois, puxou a outra bolsa, tirou um pote de alunínio que continha algo parecido com arroz de cenoura e começou a dar comida pro moleque. Cada garfada que ia na direção do menino ele reclamava, fazia manha e metade ia pro chão. A tia passou a falar com ele com aquela voz de criança. Não adiantou. Ralhou com ele, então. Mas a cena se repetiu. E se repetiu. E se repetiu.
Aquilo, que já tinha começado a me incomodar um pouco antes, acabou ficando insuportável. Ainda bem que só restavam mais duas fatias de sashimi de anchova para eu acabar minha refeição - ainda tenho a mania de criança de deixar o que mais gosto pra comer no final.
Acabei, me levantei, recolhi meu lixo para levar ao local adequado e pensei, ainda sentada, em toda aquela situação. "Nossa, acho que estou um pouco mal humorada hoje. Deve ser porque eu terei de voltar para o serviço com essa tarde linda que faz agora aqui em Brasília. A culpa é do plantão", justifiquei comigo mesmo. "Afinal, que legal a família se reunir para ir com as crianças ao shopping. Tudo bem que eles poderiam ter feito um pic nic com a crianças em vez de ficar enfurnado em um lugar sem janelas. Até porque, o almoço dos pequenos foi levado", continuei a falar comigo.
Quando finalmente me afastei da mesa, pude ouvir ao fundo a voz de uma das moças: "Até que enfim a mulher se levantou. Achei que não fosse acabar aquele peixe nunca..." Ri e voltei a pensar com meus botões: "volte para o trabalho agora com a mesma serenidade com que veio almoçar. Não reaja".
É isso ai, bonitinha como mamãe ensinou.Parabéns.Pl
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