segunda-feira, 12 de abril de 2010

A avó comunista e a avó de direita

Como foi dito aqui algumas vezes antes, nunca contamos com avós por perto quando éramos crianças. Assim, as vizinhas da Rua 7, onde morávamos, em Cruzeiro (interior de São Paulo, no Vale do Paraíba), desempenhavam esse papel. O engraçado é que cada uma tinha o seu estilo de ser “vó postiça”.

Dona Therezinha ficava à nossa direita. E como não podia deixar de ser quem se posiciona desse lado, tinha uma linha mais dura: criticava minha mãe quando nos dava alguma guloseima industrializada (mas deliciosa para o paladar infantil), dizia que tínhamos horário certo para dormir e acordar mesmo nas férias e nos dava livros de presentes para incentivar a prática da leitura.

Já a vizinha da esquerda era a Tia Shirley. Tinha quatro filhas, o Rex (o cachorro mais feito pra criança do mundo) e mangueira e goiabeira no quintal. Ali todo mundo podia tudo, como também não podia deixar de ser para uma “esquerdista”. Até o jeito de entrar na casa já era clandestino, pela janela do quarto da tia que dava para o nosso quintal.

O sucesso culinário de Dona Therezinha era a gelatina colorida em pedaços com creme de leite. O da Tia Shirley, eram as famosas panquecas. Tia Shirley se mudou, quando ainda éramos crianças, para Pindamonhangaba, Guaratinguetá, Potim e tantas outras cidades com nomes indígenas que nem me lembro mais. Dona Therezinha foi embora para um pouco mais longe e resolveu ir morar com o papai do céu quando já éramos adultas. Um dia, quando encontrar São Pedro, espero ser recebida também com um pote bem grande de gelatina colorida para lembrar o doce sabor da infância.

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