É bom ter uma irmã. É claro que parei para refletir sobre isso agora por causa da chegada de um sobrinho – na rotina da vida, não costumamos valorizar as preciosidades que temos ao nosso redor. Mas criança na família, é coisa rara de se ver entre nós dado o núcleo restrito em que nos constituímos (ver 23/03 – Distâncias).
Me lembro que um dos primeiros “benefícios” trazidos pela existência de uma irmã – que, no caso, é mais nova do que eu – foi em relação ao pecado da gula. Família portuguesa, apesar de já morar há alguns anos no Brasil mantinha a culinária como um elo com as raízes. Arroz e feijão em casa, nunca. Mandioca, nem pensar. Curau, por exemplo, só fui conhecer na faculdade quando erroneamente quis experimentar misturado com arroz e feijão porque pensei que era polenta – outra iguaria que não frequentava nossa mesa.

Pois bem. Dona Laura estava grávida de sua segunda filha – na época, acho que nem sabíamos o sexo da criança – e foi à
Santa Casa de Cruzeiro dar à luz. Se comida de hospital não é reconhecidamente nenhum manjar dos Deuses, a coisa se torna pior quando a paciente em questão não está habituada a esse tipo de culinária. Eis que, enfraquecida pelo trabalho do parto normal, a agora pós-graduada mamãe se esforçou em comer pelo menos um pouco de verdura e proteína. Nem tocou no arroz com feijão. Eu, com quatro anos de idade e de visita pela maternidade, não tive dúvidas e mandei tudo para dentro. Meus pais ficaram impressionados ao me verem deliciar-me com tão estranha combinação.
Não deu outra. Nas refeições seguintes servidas pelo hospital, minha mãe só tocava na carne e na salada. Não só por não ter que encarar o feijão sobre o arroz, mas mais pelo prazer de ver a filha mais velha descobrir – e aprovar – sabor antes não experimentado.
Pois é, ainda hoje arroz c/ feijão não vai muito bem.Mas adoro mandioca frita...hum, tutu de feijão, e farofa.Palmer
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